13 de jan. de 2016

A consciência liberada

A consciência liberada
Quais são as sensações que a leitura suscita em nós? Jouve diz que a relação com o texto permite, primeiramente, uma experiência particular que Jauss chama de “fruição estética” na qual “o sujeito é liberado pelo imaginário de tudo aquilo que torna a realidade de sua vida cotidiana constrangedora”. Essa fruição estética nos faz entrar em contato com uma consciência “imaginante”, termo usado por Sartre, que leva a uma sensação de liberdade e de criatividade. Para que isso ocorra, esta consciência imaginante se dá em dois tempos: aniquilação e criação.

Aniquilação: o sujeito se afasta do mundo ao redor.

Criação: abertura para um mundo novo a partir dos signos do objeto contemplado.

Ou seja, a leitura é, ao mesmo tempo, experiência de libertação e de preenchimento. Afasta-se da realidade cotidiana, de modo que a consciência imaginante tenha abertura para entrar em atividade a partir dos signos do texto.

Enquanto fruição estética a leitura é, segundo Jauss, “tanto libertação de alguma coisa quanto libertação para alguma coisa”. A experiência estética desprende o leitor das dificuldades e imposições da vida real ao mesmo tempo que renova sua percepção do mundo pelo universo do texto. Exemplo disso seria o interesse que surge no leitor pelo destino das personagens de um conto ou romance, ao confrontá-lo com situações inéditas. Nesta atividade o leitor tem seu próprio olhar modificado, alterado.

Thomas Pavel fala da existência de um eu “artístico”, representante do sujeito no universo do texto. O lingüista diz que quando “visitamos as regiões fictícias, moramos nelas por um tempo, nos misturamos às personagens. O destino delas nos emociona...”.

A vertigem
Segundo Jouve, uma das experiências mais emocionantes da leitura consiste em proferir mentalmente idéias que não são nossas. Tal experiência adquire uma intensidade particular nas narrativas em primeira pessoa. A voz do narrador em primeira pessoa se confunde, por um tempo, com a nossa. Jorge Poulet descreveu esse processo como “uma fenomenologia da leitura”.

Ocorre uma interiorização do outro. Por momentos somos quem não somos, isto desestabiliza o leitor. Há uma assimilação do outro. Para B. Abraham, “Ler é desterritorializar: deixar passar pelo corpo os fluxos, as tendências inconscientes, as palavras de ordem que caracterizam o livro como ordenação”.
(continua)

Tânia Barros, em seminário 
da pós-graduação (UFF,2008) do capítulo O Vivido da Leitura, de Vincent Jouve. 

Bibliografia: Jouve, Vincent. A Leitura. Editora UNESP, São Paulo, 2002

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